OPERAÇÕES POLICIAIS NO SALGUEIRO: OBSERVATÓRIO DAS PERIFERIAS DIVULGA CARTA ABERTA CRITICANDO A POLÍTICA DE SEGURANÇA DO ESTADO
Moradores das comunidades do Salgueiro enfrentam clima de tensão com frequentes operações policiais em São Gonçalo
Como noticiado pela SpingRV, os moradores do Complexo de Favelas do Salgueiro, em São Gonçalo, têm vivido momentos de tensão desde o início deste mês devido às constantes operações policiais na região. Na semana passada, as comunidades enfrentaram ações policiais quase todos os dias, o que afetou profundamente a rotina dos moradores. Muitas pessoas ficaram impossibilitadas de ir a consultas médicas, trabalhar ou levar seus filhos à escola, já que as instituições de ensino permaneceram fechadas durante as operações.
O sentimento predominante entre os moradores é de isolamento e vulnerabilidade, como se estivessem no meio de uma guerra que não lhes pertence. Em resposta à situação, o Observatório das Periferias divulgou uma carta aberta criticando duramente a política de segurança pública do estado.
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CARTA ABERTA DO OBSERVATÓRIO DAS PERIFERIAS
Nós, integrantes das instituições que compõem o Observatório das Periferias em São Gonçalo, vimos por meio desta nota repudiar as violentas operações realizadas pelo Estado nesses territórios, já tão negligenciados pelo poder público.
Ao longo dos anos, e especialmente nas últimas semanas, o Salgueiro, o Jardim Catarina e outras áreas periféricas têm sido alvos de ações brutais que resultam na morte de muitos cidadãos e provocam impactos profundos na saúde física, mental e na vida cotidiana da população.
Queremos expressar nosso grito de socorro ao denunciar a necropolítica do Estado brasileiro, que, através das operações policiais, tem como alvo, em sua maioria, 82,7% de pessoas negras, conforme aponta o Anuário Brasileiro de 2023. As consequências dessas ações violentas recaem sobre milhares de vidas nessas comunidades.
Recentemente, os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) de 2024 foram divulgados, revelando que as escolas de São Gonçalo ficaram abaixo da média nacional. Algumas unidades localizadas no Salgueiro foram especificamente destacadas (Jornal São Gonçalo, 16 de agosto de 2024). Esse desempenho pode ser atribuído, em parte, às constantes violações dos direitos humanos e ao direito de ir e vir com segurança da comunidade escolar.
O fechamento das escolas devido às operações policiais impede centenas de crianças de frequentarem as aulas, comprometendo seu desenvolvimento intelectual. Além disso, muitas dependem da merenda escolar para sua alimentação diária. Quando as unidades fecham, essas crianças ficam desassistidas. A saúde mental de alunos e profissionais da educação também é gravemente afetada, assim como o cotidiano dos pais e responsáveis, que muitas vezes não conseguem trabalhar por não terem onde deixar seus filhos.
O sentimento de insegurança é constante, deixando a população em um estado de impotência diante da negligência que atinge aqueles que vivem em condições de extrema vulnerabilidade social.
Assim nos defrontamos com os recorrentes episódios do descaso com as populações que vive em condições de vulnerabilidade social.