Porque a prefeitura de Niterói não peita as empresas de ônibus como aconteceu em São Gonçalo, e na cidade do Rio? O que a prefeitura de Niterói teme?

Prefeitura alega subsídio via Bilhete Único, mas omissão sobre custos operacionais das empresas levanta suspeitas

Foto: reprodução

A partir do último domingo, 6, a população de Niterói passou a pagar mais caro para se deslocar nos ônibus municipais. A tarifa, que antes era de R$ 5,15 em dinheiro, subiu para R$ 5,60. A Prefeitura de Niterói afirma que está subsidiando parte do valor para quem utiliza o Bilhete Único Municipal, mantendo a tarifa reduzida para os usuários cadastrados no sistema. No entanto, a medida reacendeu críticas à falta de transparência nas planilhas de custos das empresas de transporte e ao modelo de gestão adotado pelo município.

Enquanto cidades como Maricá, Itaboraí e Saquarema já implementaram sistemas de transporte público gratuitos para a população, Niterói, uma das cidades com maior arrecadação do Estado do Rio, opta por subsidiar as empresas privadas — sem, contudo, tornar público quanto custa efetivamente operar o sistema na cidade.

"Caixa-preta" do transporte coletivo segue fechada em Niterói

A crítica central gira em torno da falta de transparência nas planilhas de custos das empresas de ônibus. Situação semelhante ocorreu na cidade do Rio de Janeiro, onde o prefeito Eduardo Paes decidiu extinguir o Bilhete Único — que era controlado pelas empresas — e implementou o Bilhete Jaé, administrado diretamente pela prefeitura. A mudança foi motivada pela recusa das viações em apresentar os dados financeiros que justificavam os reajustes tarifários. A prefeitura carioca, na ocasião, alegava que não tinha como subsidiar ou fiscalizar um sistema sem acesso a essas informações.

Em Niterói, o cenário se repete. Apesar de ter declarado, até pouco tempo atrás, que travava uma queda de braço judicial com as empresas para conter aumentos, agora a prefeitura não só aceita o reajuste, como defende o uso do Bilhete Único, alegando que o subsídio torna a tarifa mais acessível. Mas o subsídio ocorre sem que a população ou o próprio poder público tenha clareza sobre os verdadeiros custos do transporte.

Prefeitura financia sistema, mas população segue pagando caro

O subsídio bancado pela prefeitura beneficia apenas os usuários do Bilhete Único — que, vale destacar, é gerido pelas próprias empresas de ônibus. Isso levanta suspeitas sobre um possível favorecimento das viações, uma vez que a própria gestão municipal admite que o incentivo ao uso do cartão é uma forma de aliviar o impacto do reajuste.

Críticos apontam que essa lógica beneficia mais as empresas do que os cidadãos. Por que não investir em transporte gratuito, como já acontece em cidades vizinhas? Maricá, por exemplo, tem ônibus públicos e gratuitos há anos, operados por uma empresa municipal. Itaboraí iniciou um sistema semelhante. Ambas possuem orçamentos menores que o de Niterói, o que reforça a dúvida: por que Niterói, com uma arrecadação robusta, não opta pelo mesmo caminho?

Falta de clareza e ausência de alternativas públicas

A ausência de um sistema de transporte público gerido diretamente pelo município impede que a população tenha alternativas às tarifas impostas pelas empresas privadas. Ao não exigir transparência ou mesmo criar um sistema público paralelo, a prefeitura se coloca em uma posição de dependência das viações — o que compromete sua capacidade de fiscalizar e negociar com autonomia.

Por enquanto, a população arca com mais um aumento, enquanto os dados que justificam esse reajuste seguem fora do alcance público. A promessa de subsidiar parcialmente a tarifa, embora importante para alguns, não resolve o problema estrutural: a falta de controle e transparência sobre o serviço prestado.

Em um cenário de crise econômica e dificuldade de locomoção nas regiões periféricas da cidade, o aumento representa mais um peso no bolso do trabalhador. E, para muitos, a sensação que fica é de que o poder público de Niterói perdeu mais uma vez a oportunidade de colocar os interesses coletivos à frente dos interesses empresariais.


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